YOU DON'T SEE!

YOU DON'T SEE!

domingo, 7 de setembro de 2008

explanation

Eu corria, corria na tentativa desnecessária, inútil, e imponente de tentar encontrar uma explicação aceitável pela minha parte, de um mundo assim. Assim, cheio de sentimentos incompreendidos e impossíveis de apagar ou apenas colocar no contentor, ou para reciclar. Incapazes de fazerem de forma “legal” parte de um mundo que tentam tomarem por “perfeito”, um mundo destruído pelos próprios habitantes que o compõem, destruído por palavras, por “humanóides” que vivem de aparências, por acções desesperadas, por momentos absurdos, destruído pela palavra TUDO e pela palavra NADA.
Durante o meu percurso deparei-me com duas crianças. Ambas estavam na praia. Caminhavam lado a lado. Caminhavam num passo lento, mas compassado. Estavam junto ao mar, de mãos dadas. Reparei que estavam a chorar. Corri até elas.
Tentei alcançá-las, apenas queria ver se eram reais, queria tocar, agarrar, sentir.
Mas, antes de as alcançar tropecei e caí violentamente na areia.
Nesse momento, uma onda arrastou simplesmente as invulneráveis crianças para o infinito das águas e para lá dos mundos desconhecidos. Foram engolidas pelos sentimentos, pelos momentos, pelo amor, pela tristeza, pelas perturbações, pelas incompreensões, foram engolidas por aquilo que as atormentava e não atormentava.
Uma grande rajada de vento apagou por completo as recordações de ambos ou qualquer vestígio que, de qualquer maneira, me pudesse levar até eles. Eu, imóvel e gelada, com os músculos incapazes de se moverem da cabeça aos pés, apenas assisto, apenas não consigo fazer nada para os ajudar.
Agora, estou ali, sozinha, invulnerável, tal e qual como as crianças estavam, ninguém ainda deu pela minha ausência, ninguém se apercebeu que as crianças tinham sido engolidas, ninguém tem resposta para as perguntas mais casuais, mas ninguém tenta perceber porque não existem respostas para perguntas complicadas, ninguém se esforça para modificar sentimentos maus ou outro sinónimo parecido.
Apenas desenhei na areia um círculo enorme sem qualquer tipo de simbologia, um círculo tão vazio, tão inatingível, tão carregado de nostalgia que acabou simplesmente por se dissipar pela chuva que começou a cair na praia deserta. Também o círculo tinha desaparecido. Também eu neste momento fiquei com o sentimento inconsciente de desaparecer, de ir ter com as crianças ou até com o enorme círculo vazio. Fechei os olhos e senti, senti a chuva que me molhava cada vez mais, estava encharcada e jamais iria sair dali. A maré certamente iria subir…
Agora, continuo na minha pequena grande incerteza e incompreensão, mas como eu continuo assim muitas outras pessoas também continuam e continuarão sempre, até que alguém como eu tente encontrar certezas para as incertezas, mas como alguém diferente de mim encontre as certezas no meio das incertezas.

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